domingo, 16 de novembro de 2008

PESQUISA APONTA FALHAS NA FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES

A pesquisa “Formação de professores para o Ensino Fundamental: Instituições Formadoras e seus currículos” revela grande distanciamento entre a formação inicial dos professores do Ensino Fundamental, a atuação prática nas escolas e o conteúdo cobrado nos concursos públicos para a carreira docente. O estudo, encomendado pela Fundação Victor Civita, analisa os currículos dos cursos de Pedagogia, Letras, Matemática e Ciências Biológicas e foi desenvolvido pela professora Bernadete Gatti, coordenadora do departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas.

No caso da Pedagogia, foram analisados 71 cursos de todas as regiões do País. Os resultados demonstram que a escola é uma realidade praticamente ausente nos cursos e, mesmo quando aparece, é colocada em discussões teóricas. “Os currículos trazem boas justificativas ‘sobre o porquê’ ensinar, mas é muito incipiente sobre ‘o quê’ e ‘como’ ensinar”, afirma Bernadete.

A palavra “escola” aparece somente em 8% das ementas dos cursos de pedagogia, o que evidência o distanciamento entre a formação e a prática profissional. A Educação Infantil aparece em apenas 5,3% das disciplinas, a Educação Especial em 3,8% e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) somente em 1,6%. A alfabetização, por exemplo, é um aspecto muito pouco contemplado pelos currículos.

Outro ponto importante apresentado no estudo é a fragmentação dos cursos de pedagogia. Nos 71 cursos analisados, foram encontradas 3.107 disciplinas, sendo que dessas, 1.968 não tinham correspondência em nenhuma outra instituição de ensino. Além disso, apenas 28% das disciplinas são voltadas para a formação profissional específica, sendo 20,5% destinadas às metodologias e práticas de ensino e 7,5% aos conteúdos do currículo.

Já os Fundamentos Teóricos da Educação, como por exemplo o estudo de Sociologia, História da Educação, aparecem em 26% das disciplinas e os Sistemas Educacionais em 16%. A professora Bernadete reconhece que estas matérias são importantes para a formação dos professores, mas afirma ser necessário articular as teorias aos fazeres para aproximar os futuros profissionais da realidade escolar.

As licenciaturas

Assim como nos cursos de pedagogia, os de licenciatura também enfrentam dificuldades em balancear as disciplinas. O principal problema, segundo a professora é que as licenciaturas ainda hoje não estão voltadas para a formação de professores, “elas priorizam a formação disciplinar, em detrimento da pedagógica”. Ela defende equilíbrio e articulação entre as duas.

Entre as três licenciaturas analisadas, Matemática é a que possui melhor distribuição de disciplinas. Já as de Ciências Biológicas têm o menor número de disciplinas voltadas para a formação docente. Embora em todas tenha sido detectada uma grande distância entre a teoria e a prática pedagógica, um ponto destacado pela pesquisadora da FCC é que estes cursos também formam para outras vocações profissionais, possibilitando que os alunos atuem em outras áreas, que não a docente.

“Seria interessante ter uma instituição mais forte, formadora, com diretrizes mais coerentes, com ementas mais integradas, para balancear a formação disciplinar e pedagógica”, defende a professora.

Os estágios

Os estágios também foram abordados pela pesquisa e segundo a professora, eles “constituem um grande drama da formação de professores”. De acordo com o estudo, a maioria dos projetos pedagógicos e das estruturas curriculares não define claramente os estágios e a sua forma de supervisão.

A professora explica que a maioria dos cursos é ministrada no período noturno, o que dificulta ainda mais a questão do acompanhamento do estágio porque muitos alunos trabalham durante o dia. “São poucas as instituições que apresentam uma proposta de estágio, onde se percebe uma articulação entre a instituição, as redes de ensino e a supervisão do estágio”, diz Bernadete.

Concursos Públicos

Outro ponto analisado é a contração dos profissionais por meio de concursos públicos. De acordo com a pesquisa, a maior parte dos editais não possui bibliografia específica sobre o conteúdo cobrado nas provas. Além disso, cobra-se muita legislação e o funcionamento dos sistemas educacionais. Poucas questões abordam os Fundamentos Teóricos da Educação e as práticas docentes praticamente não aparecem nas avaliações. Estas últimas, portanto, “não interferem no resultado, pois não pesam na seleção dos professores”.

Ou seja, a formação inicial além de não estar vinculada a atuação em sala de aula, não dialoga com o conteúdo cobrado pelos concursos públicos. Esse modelo de contratação, segundo Bernadete, possibilita a aprovação de candidatos que podem ter uma boa condição intelectual, mas pouca didática. Outro ponto destacado por ela, é o fato da experiência profissional ser muito pouco computada nos concursos. Segundo a pesquisadora, alguns secretários estaduais de Educação argumentam que o Ministério Público proíbe a exigência da experiência.

Leia a pesquisa na íntegra no site da revista Nova Escola

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